Por Laís Nogueira
Entrevista sobre depressão: diagnóstico, tratamento, casos e
particularidades do atendimento, com doutora a Aida Cleyde. Psiquiatra, formada
em farmácia pela Universidade Federal da Bahia, em Medicina pela Escola Baiana
de Medicina e Saúde Pública, com especialização em Ginecologia e Obstetrícia.
Casos e acasos, no processo de diagnóstico:
"Durante meus atendimentos
envolvendo casos de depressão, sempre observei em todos os meus pacientes uma
expressão facial de dor. E na história quando você vai ver não existe nenhuma
dor física, e eu precisava entender o que acontecia por trás daquela expressão.
Uma das primeiras pacientes de depressão que eu atendi, ainda em período de
formação, no Hospital das Clínicas, em uma das nossas conversas quando
perguntada sobre como ela definiria a depressão, me respondeu: Depressão é a
dor que não dói. Eu achei aquilo fantástico! Foi aí que eu compreendi de onde
vem aquela dor. Como não é uma dor física inicialmente, a forma de transparecer
é pela face. E trago essa definição há quase 24 anos de atuação na área."
Como é feito o tratamento?
"Eu sempre coloco para os meus pacientes, desde 1993 quando comecei a acompanhá-los, o tripé: atividade física, medicação quando
necessária e psicoterapia principalmente. Com esse tripé eu consegui manter uma
padronização do tratamento. Eu acho que o medicamento deve vir em último caso e
nunca acreditei muito em dopar o paciente. Para mim, só se deve utilizar esse
método quando não se consegue por nenhum meio, tirá-lo da possibilidade de
suicídio. É preciso monitorar, passar os contatos e dar o suporte
necessário para que possamos em conjunto encontrar a cura. O objetivo é ensinar
aquela pessoa a se cuidar, sair da dependência da família, que deve ser
conscientizada."
Como fica o envolvimento pessoal com as histórias contadas dentro do
consultório? Até que ponto o emocional ajuda ou atrapalha no desenvolvimento
dos casos?
"Não pode haver um distanciamento
total, como também uma aproximação tão intensa que interfira na relação
médico-paciente. Claro que por se tratar de médicos que são seres humanos,
existem aquelas histórias que nos comovem mais. No início foi mais difícil. Até
hoje eu tive apenas um caso que precisei passar para um colega. A paciente
tinha Leucemia, e eu sempre saía do consultório me perguntando se eu
conseguiria acompanhá-la até o fim. Eu me envolvi muito, a ponto de passar o
natal com ela no hospital. Ela me pediu e eu não consegui negar. Depois do
natal, eu percebi que não conseguia dar conta, e pedi permissão para
transferir o caso dela para outro profissional da minha confiança."
Existe alguma forma de prevenir a doença?
A depressão vem de várias formas, a tristeza por ser o último sintoma. Quando se começa a investigar, percebemos que aquela pessoa já dava sinais desde a infância. "Hoje não estou bem, vou fazer compras"... Todos os pequenos curativos que as pessoas fazem acabam influenciando para que a depressão aconteça. Quem tem tendência para a
depressão vai potencializando situações cotidianas e o corpo começa a pedir
socorro. Pode ser algo insignificante para a maioria, mas que para essas pessoas é muito intenso. Nos primeiros sintomas é preciso perceber que não é só uma crise. É preciso dizer ao paciente quais os sinais que ele pode ter. Quando perceber que saiu do seu limite, uma frustração ou algo do gênero, a solução é partir para a terapia.
Particularidade da
doutora
Presente de um dos filhos, a bola
utilizada pela psiquiatra, é um referencial de energia entre o médico e o
paciente, que mede o efeito de melhora, de calma, de tranquilidade ou até de
stress, demonstrado pelo paciente durante as consultas. Segundo ela, o instrumento leva para
a prática o que a pessoa pensa e sente, mas não define.