Por Carla Trabazo
Em um mundo
imediatista, capitalista e com padrões de beleza ditados, torna-se exaustiva a
sobrevivência e a inserção do indivíduo neste mundo. Daí pode ser desenvolvido
o estresse, a ansiedade e, em pelo menos 5% da população mundial, a incidência
da depressão, que entrou recentemente para o Catálogo Internacional de Doenças
(CID). Esta doença vem atingindo uma grande parcela de jovens, que quando não
detectada logo, pode acarretar em sérias consequências, como o suicídio.
Em entrevista, a
psicanalista Maria José Carballal explica: “a depressão é uma retirada do
desejo pela vida; é a falta de vínculo com o mundo externo. A dor de existir
está em qualquer faixa etária, inclusive em crianças. O que notamos é que o
jovem, por ser especialmente motor e idealista, quando não tem muitos ideais ou
fica trancafiado no quarto, pode significar um sinal de alerta para os pais ou
pessoas que convivem com ele”.
Maria José Carballal, psicanalista |
No ramo da
psicologia clínica há mais de 30 anos, Maria José conta que para despertar a
depressão existem causas endógenas, como problemas na secreção de hormônios que
dificultam o bom humor (a exemplo, a bipolaridade) e externas, como perdas e
compulsões. “Atualmente, existe uma dificuldade das pessoas se confrontarem com
suas tristezas, parece que não querem sentir mal estar. Elas exageram em
medicações para poder evitar a dor, que é normal; necessária, como que querendo
se anestesiar desse momento”, explica a psicanalista.
De modo geral,
os jovens contemporâneos se deparam com diversas pressões sociais, que
favorecem oscilações no humor e mudanças no comportamento. A partir daí, os
mais sensíveis podem desenvolver quadros depressivos, com sintomas de baixa
auto estima, confusão, solidão e atitudes de rebeldia.
“O nível de
exigência está muito grande. Tem que ter um modelo de corpo, de cabelo, de
roupa e ter acesso a várias coisas, senão você está fora. Esses estereótipos
criam um mal estar muito grande nas pessoas que são diferentes e que não têm a
coragem de se posicionar com a identidade própria que têm. Isso pode causar
depressão facilmente, por fazer o jovem se sentir diferente; alheio ao que está
demarcado”, observa Maria José.
Os impactos
desta doença no cotidiano do indivíduo podem ser inúmeros. A produção na escola
cai consideravelmente, além das ausências serem mais frequentes. Há, ainda, uma
esquiva ao lazer, pelo fato da pessoa se sentir sempre como um estranho em
todos os lugares que vai, prejudicando o relacionamento familiar e social.
“Com a tendência
da era digital, as pessoas ficam muito alheias, se satisfazem com a internet. O
contato social, um sorriso, um abraço energizam a gente, mas o deprimido faz
essa retirada. Não tem toque, não tem abraço”, explica a psicanalista, contando
ainda que a depressão em adolescentes pode ser “mascarada” por problemas
físicos que parecem não se relacionar com as emoções.
Segundo Maria
José, o tratamento é feito com um psiquiatra e, ao mesmo tempo, com um
psicólogo. Enquanto a medicação é receitada ao indivíduo, há ainda o
aconselhamento psicológico, para ajudá-lo a superar o mal estar. “Quando a
pessoa faz psicoterapia, ela tem mais facilidade de entender o que está
acontecendo com ela e agir para não deixar a depressão se instalar”.
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