terça-feira, 17 de setembro de 2013

Depressão: que bicho é esse?

Por Carla Trabazo

Em um mundo imediatista, capitalista e com padrões de beleza ditados, torna-se exaustiva a sobrevivência e a inserção do indivíduo neste mundo. Daí pode ser desenvolvido o estresse, a ansiedade e, em pelo menos 5% da população mundial, a incidência da depressão, que entrou recentemente para o Catálogo Internacional de Doenças (CID). Esta doença vem atingindo uma grande parcela de jovens, que quando não detectada logo, pode acarretar em sérias consequências, como o suicídio.
Em entrevista, a psicanalista Maria José Carballal explica: “a depressão é uma retirada do desejo pela vida; é a falta de vínculo com o mundo externo. A dor de existir está em qualquer faixa etária, inclusive em crianças. O que notamos é que o jovem, por ser especialmente motor e idealista, quando não tem muitos ideais ou fica trancafiado no quarto, pode significar um sinal de alerta para os pais ou pessoas que convivem com ele”.
Maria José Carballal, psicanalista
No ramo da psicologia clínica há mais de 30 anos, Maria José conta que para despertar a depressão existem causas endógenas, como problemas na secreção de hormônios que dificultam o bom humor (a exemplo, a bipolaridade) e externas, como perdas e compulsões. “Atualmente, existe uma dificuldade das pessoas se confrontarem com suas tristezas, parece que não querem sentir mal estar. Elas exageram em medicações para poder evitar a dor, que é normal; necessária, como que querendo se anestesiar desse momento”, explica a psicanalista.
De modo geral, os jovens contemporâneos se deparam com diversas pressões sociais, que favorecem oscilações no humor e mudanças no comportamento. A partir daí, os mais sensíveis podem desenvolver quadros depressivos, com sintomas de baixa auto estima, confusão, solidão e atitudes de rebeldia.
“O nível de exigência está muito grande. Tem que ter um modelo de corpo, de cabelo, de roupa e ter acesso a várias coisas, senão você está fora. Esses estereótipos criam um mal estar muito grande nas pessoas que são diferentes e que não têm a coragem de se posicionar com a identidade própria que têm. Isso pode causar depressão facilmente, por fazer o jovem se sentir diferente; alheio ao que está demarcado”, observa Maria José.
Os impactos desta doença no cotidiano do indivíduo podem ser inúmeros. A produção na escola cai consideravelmente, além das ausências serem mais frequentes. Há, ainda, uma esquiva ao lazer, pelo fato da pessoa se sentir sempre como um estranho em todos os lugares que vai, prejudicando o relacionamento familiar e social.
“Com a tendência da era digital, as pessoas ficam muito alheias, se satisfazem com a internet. O contato social, um sorriso, um abraço energizam a gente, mas o deprimido faz essa retirada. Não tem toque, não tem abraço”, explica a psicanalista, contando ainda que a depressão em adolescentes pode ser “mascarada” por problemas físicos que parecem não se relacionar com as emoções.
Segundo Maria José, o tratamento é feito com um psiquiatra e, ao mesmo tempo, com um psicólogo. Enquanto a medicação é receitada ao indivíduo, há ainda o aconselhamento psicológico, para ajudá-lo a superar o mal estar. “Quando a pessoa faz psicoterapia, ela tem mais facilidade de entender o que está acontecendo com ela e agir para não deixar a depressão se instalar”.

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