domingo, 29 de setembro de 2013

"A DOR QUE NÃO DÓI"

Por Laís Nogueira

Entrevista sobre depressão: diagnóstico, tratamento, casos e particularidades do atendimento, com doutora a Aida Cleyde. Psiquiatra, formada em farmácia pela Universidade Federal da Bahia, em Medicina pela Escola Baiana de Medicina e Saúde Pública, com especialização em Ginecologia e Obstetrícia.

Casos e acasos, no processo de diagnóstico:

"Durante meus atendimentos envolvendo casos de depressão, sempre observei em todos os meus pacientes uma expressão facial de dor. E na história quando você vai ver não existe nenhuma dor física, e eu precisava entender o que acontecia por trás daquela expressão. Uma das primeiras pacientes de depressão que eu atendi, ainda em período de formação, no Hospital das Clínicas, em uma das nossas conversas quando perguntada sobre como ela definiria a depressão, me respondeu: Depressão é a dor que não dói. Eu achei aquilo fantástico! Foi aí que eu compreendi de onde vem aquela dor. Como não é uma dor física inicialmente, a forma de transparecer é pela face. E trago essa definição há quase 24 anos de atuação na área."

Como é feito o tratamento?

"Eu sempre coloco para os meus pacientes, desde 1993 quando comecei a acompanhá-los, o tripé: atividade física, medicação quando necessária e psicoterapia principalmente. Com esse tripé eu consegui manter uma padronização do tratamento. Eu acho que o medicamento deve vir em último caso e nunca acreditei muito em dopar o paciente. Para mim, só se deve utilizar esse método quando não se consegue por nenhum meio, tirá-lo da possibilidade de suicídio. É preciso monitorar, passar os contatos e dar o suporte necessário para que possamos em conjunto encontrar a cura. O objetivo é ensinar aquela pessoa a se cuidar, sair da dependência da família, que deve ser conscientizada."


Como fica o envolvimento pessoal com as histórias contadas dentro do consultório? Até que ponto o emocional ajuda ou atrapalha no desenvolvimento dos casos?

"Não pode haver um distanciamento total, como também uma aproximação tão intensa que interfira na relação médico-paciente. Claro que por se tratar de médicos que são seres humanos, existem aquelas histórias que nos comovem mais. No início foi mais difícil. Até hoje eu tive apenas um caso que precisei passar para um colega. A paciente tinha Leucemia, e eu sempre saía do consultório me perguntando se eu conseguiria acompanhá-la até o fim. Eu me envolvi muito, a ponto de passar o natal com ela no hospital. Ela me pediu e eu não consegui negar. Depois do natal, eu percebi que não conseguia dar conta, e pedi permissão para transferir o caso dela para outro profissional da minha confiança."

Existe alguma forma de prevenir a doença?

A depressão vem de várias formas, a tristeza por ser o último sintoma. Quando se começa a investigar, percebemos que aquela pessoa já dava sinais desde a infância.  "Hoje não estou bem, vou fazer compras"... Todos os pequenos curativos que as pessoas fazem acabam influenciando para que a depressão aconteça. Quem tem tendência para a depressão vai potencializando situações cotidianas e o corpo começa a pedir socorro. Pode ser algo insignificante para a maioria, mas que para essas pessoas é muito intenso. Nos primeiros sintomas é preciso perceber que não é só uma crise. É preciso dizer ao paciente quais os sinais que ele pode ter. Quando perceber que saiu do seu limite, uma frustração ou algo do gênero, a solução é partir para  a terapia.


Particularidade da doutora

Presente de um dos filhos, a bola utilizada pela psiquiatra, é um referencial de energia entre o médico e o paciente, que mede o efeito de melhora, de calma, de tranquilidade ou até de stress, demonstrado pelo paciente durante as consultas. Segundo ela, o instrumento leva para a prática o que a pessoa pensa e sente, mas não define.


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